sexta-feira, 16 de maio de 2008

A cerâmica arqueológica de Oriximiná *


Seguindo um velho ditado popular na região que diz: “na terra preta tem careta”, o
inglês Peter Paul Hilbert e sua mulher Eva Hilbert passaram anos pesquisando e catalogando as
“caretas” encontradas na região de Oriximiná na década de 50. De volta à Europa, a datação
científica informa a época provável de 5.000 antes de Cristo para sua origem. Mais uma
civilização desconhecida na Amazônia, mais uma área de pesquisa histórica à espera dos
arqueólogos, mais uma cerâmica que precisa ser conhecida pelos nativos da região, e porque
não dizer, outro potencial turístico a ser divulgado.
Peter Hilbert foi o primeiro e último a estudar a cerâmica dos “Konduri” como foi
batizada por outro estrangeiro, o alemão Curt Nimuendaju, que a partir de 1923 estudou
detalhadamente a cerâmica dos Tapajó, na cidade de Santarém. Frederico Barata, em A Arte
Oleira dos Tapajó, também fez referências aos achados arqueológicos na região do Tapajós e
Trombetas, no século passado.
Lemos em Tupaiulândia, obra prima de Paulo Rodrigues dos Santos, a aparente
casualidade dos achados de “caretas” nas ruas de Santarém, o que despertou a curiosidade
dos habitantes e especialmente do antropólogo alemão que já havia se radicado nas matas do
Mato Grosso, para estudar os Guarani, inclusive tendo adotado o apelido do tuxaua da tribo,
Nimuendaju, para substituir o sobrenome Unkel.
Os estudos de Nimuendaju publicados na Europa são determinantes para a vinda do
casal inglês para região de Oriximiná, no longínquo ano de 1952, especialmente no vale dos
rios Trombetas e Jamundá, como ele chamou para o atual Nhamundá, chegando inclusive a
pesquisar também em Terra Santa e Faro.
É material de pesquisa indispensável para os estudiosos da região. Há uma empresa
mineradora que assumiu encargos legais de patrocinar a retirada desse material arqueológico
por pessoas habilitadas antes de descapar a floresta e sugar o solo vermelho da bauxita. O
conhecimento destes elementos históricos pela população e classe estudantil deve ser móvel
suficiente para estimular a pesquisa e também fiscalizar as práticas salvadoras do espólio
cultural dos Konduris.
Elemento produzido pelos antepassados da região, a cerâmica arqueológica de
Oriximiná vem integrar a categoria diferenciadora e identificadora culturalmente da região do
baixo amazonas paraense. A Fundação Ferreira de Almeida, OSCIP (Organização da Sociedade
Civil de Interesse Público) atuante em Oriximiná, iniciou ciclo de palestras sobre A Cerâmica
Konduri nas escolas da cidade, despertando a curiosidade dos professores e interesse dos
alunos na busca de suas origens. Como resultado desse trabalho, Fátima Guerreiro, professora
do Sapucuá, lago natural margeado pela Serra Cunuri, descobriu uma descendente da tribo dos
Cunurizes que ainda sabe manejar o barro com cauixi – desengordurante natural -, e está
organizando um Festival Konduri para o mês de junho próximo.
Faltam mais estudos e motivações aos nativos para se informar do conhecimento
necessário das suas raízes, e a partir dessa matriz do saber local estruturar as bases da defesa
do desenvolvimento regional. Mas, a iniciativa da Fundação Ferreira de Almeida e da Prof.
Fátima, devem ser apoiadas pela Prefeitura Municipal de Oriximiná através de sua Secretaria
de Cultura, na pessoa de outro não menos devotado pelas raízes de Oriximiná como é o
Secretário Adélcio Correia Júnior.
É digno de registro um trecho extraído da obra do Professor Paulo Rodrigues dos Santos,
para reforçar a tese da arqueologia regional desconhecida onde pairam as tibiezas e
ignorâncias das lideranças em resgatar nossas raízes como forma de valorização da nossa
gente. “...outro colecionador foi Artur Liebold, comerciante alemão da cidade, que chegou a
reunir vários espécimes, não somente dos tapajós, como de outros índios do Amazonas. Sua
viúva vendeu a coleção ao Dr. Ubirajara Bentes de Souza que, com carinho e incrível
paciência, continuou a aumentar a coleção, sendo hoje (1965) o maior possuidor de cerâmica
e objetos indígenas de várias procedências. Verdadeiro museu valendo muitos milhões de
cruzeiros...” (Tupaiulândia, 2ª ed. Belém,1972 ,pág. 320)
Foi com essa carga de informações e detalhamento que Hilbert, municiado pelas
instituições estrangeiras em convênio com o Museu Paraense Emílio Goeldi, passou dois anos
coletando material, estudando o meio de vida da região e registrando para a posteridade em
seu A Cerâmica Arqueológica da Região de Oriximiná, (Boletim do Museu Paraense Emílio
Goeldi, nº 09, Instituto de Antropologia do Pará, 1955), mapas, desenhos, e suas conclusões
sobre mais esse elemento cultural de uma civilização amazônica.
* texto publicado em O Liberal no ano de 2001, por João Bosco Almeida, Advogado e autor do livro KONDURILÂNDIA-FFA.2001.

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